Calma, você não é uma pessoa burra
Se você, como eu, tem a tendência de se diminuir, quando alguém te dá instruções e você não entende, esse texto é para você.
Eu estudei comunicação na faculdade e sempre acreditei que se qualquer pessoa falasse algo com clareza, a outra, obrigatoriamente, teria que entender. Tipo, ciência exata.
Caso acontecesse algum desentendimento, quem não tava entendendo era, possivelmente, de um nível intelectual menor.
Geralmente, eu me via nessa segunda categoria. A que não tinha capacidade para tal compreensão.
Eu me sentia burra ou incapaz quando não conseguia fazer coisas, mesmo recebendo instruções “claras”.
E isso valia para dia a dia, relacionamentos, trabalho, aprendizados esportivos e até terapia.
Exemplos:
No dia a dia, dirigindo, alguém diz “vai em frente”.
Beleza, mas tem 6 faixas, duas delas vão para um túnel e as outras 4 para um mergulhão. A qual frente você se refere?
No pilates, a instrutora diz “deita no chão”.
Mas de frente para o espelho, de costas para ele, de barriga pra baixo?! Tem muitos jeitos que podemos levantar a perna, segurar a bola e agachar.
No Beach Tenis: “mantém a raquete alta”. Alta quanto? Manter em que momento, dado que eu estou batendo na bola? Eu posso manter ela alta de vários jeitos, inclinada pra frente, pra trás…
“Recupera”? Pra mim, recuperar é pára tudo e respira. Não é voltar para a linha de três metros.
Na terapia, “seja gentil com você mesma”. Ok, o que é ser gentil? É me mimar? É fazer tudo o que eu quero? Ou é observar meus pensamentos, escolher focar no que importa, aceitar minhas emoções desconfortáveis?
O que define essa “clareza”?
Essa falha de comunicação fica evidente, na vida adulta, quando se está fazendo esportes ou atividades físicas.
Os professores soltam termos e expresssões que têm muita afinidade. Para eles, estão falando o óbvio. Mais claro, impossível.
Quem já tá expert no assunto, esquece que aquele termo pode não fazer sentido para quem é novo. E não é por maldade!
Mas a cabeça das pessoas funciona de forma diferente.
Inclusive, vi um Tik Tok, outro dia, com um casal de senhores que estava junto há anos. O entrevistador perguntava o segredo. Eles sabiam que o cérebro de um funcionava diferente do do outro e se lembravam disso o tempo todo! Tipo, “tenha empatia, lembre que nossa forma de pensar é diferente e tente explicar de uma forma que eu entenda.”
Existem camadas que vão além da linguagem
Às vezes, a forma que a pessoa fala não faz sentido para você. Por mais que faça para ela. E tudo bem.
O motivo: talvez você nunca tenha visto aquilo antes, tenha pouca prática ou por conta de emoções, como vergonha ou medo, que nublam tudo e fazem você esquecer até o seu próprio nome.
E você, se estiver falando e alguém não estiver entendendo, não é incompetente. As mesmas coisas que valem para você, valem para os outros. Os mesmos motivos acima.
Já parou para pensar nisso?
Por que eu acho importante esse assunto a ponto de vir aqui escrever sobre ele:
Além de ser uma amante da comunicação (tudo que tem a ver com análise de discurso me fascina), eu sempre fui uma pessoa muito insegura, que me diminuia para tudo.
Então, quando entendi essa correlação, entre insegurança e os diferentes tipos de clareza, pensei na hora que deveria ser uma utilidade pública. Tipo, perceba: “seus questionamentos são válidos, você não é ruim, você só não recebeu uma instrução que fizesse sentido para você.”
Às vezes, ainda não é o momento. Vai chegar o dia que aquilo vai fazer sentido. Às vezes, é a experiência. Você precisa vivenciar algo que vai ser o degrau que faltava para conectar os pontos desse entendimento.
Faz sentido?
Já passou por alguma situação semelhante como as que falei acima? Também mudou de perspectiva como eu e hoje se sente uma pessoa menos insegura? Conta pra mim nos comentários.